TRANS__AÇÃO

TRANS___AÇÃO

A XAVIER

Spray sobre tecido de polyester

137x69cm


Trans é um prefixo.
Trans é um território edénico minado.
Ação é fazer.
Ação é, também, inércia.
O que cabe entre os dois?

 

[PT]

Trans é um prefixo. Trans é um território edénico minado. Trans implica uma quebra na continuidade, uma modificação no ritmo que embala a inércia com a qual se vive, talvez de modo a que a vida seja previsível e, assim, interpretada ou sentida com alguma constância.
A realidade trans, por mais múltipla que seja, encontra-se nesse ponto de rutura. Não obstante questões de género, sexo, classe, etnia, entre outras, ser trans é um lugar comum onde as diversidades individuais se encontram. Assim, surge a bandeira como símbolo intuitivo da materialização desse lugar. Apesar da ligação incontornável a discursos hierárquicos e de exclusão, uma bandeira remete para um lugar comum. Então, a apropriação desse símbolo e a expropriação da sua simbologia assentam, também, no lugar dissidente onde existimos.
Contudo, a realidade é apenas a interpretação de uma coleção de experiências individuais domada pela dita universalização da experiência coletiva. Logo, a construção de uma narrativa coletiva hierarquizada da realidade tem por base a exclusão de experiências que não se enquadram nos padrões de funcionamento da mesma. Então, todas as ações dirigidas a, e sobre, pessoas trans são facilmente redigidas como forma de ataque, em função da sistematização cisheteronormativa e capital, e a necropolítica que as suporta. Isto leva-nos à prepotência. Daí sai uma dualidade na forma da ação. A vontade de potenciar a mudança da narrativa social opressora contraposta à realidade de que é quase impossível fazê-lo.
Deduz-se, então, que trans é a condição e a ação pode ser múltipla, mas, quero perguntar, que lugar é esse entre os dois? E o que cabe nele?

  

[EN]

Trans is a prefix. Trans is a mined edenic territory. Trans does not come without a break in continuity, a modification in the rhythm that cradles the inertia we usually live with, maybe hoping that life becomes predictable and, therefore, interpreted or felt with some stability.
Trans realities, however multiple they can be, meet at that point of rupture. Despite the questions of gender, sex, class, ethnicity, and others, being trans is a common ground where those diversities meet. So, the flag appears as an intuitive symbol that materializes that place. Despite the unavoidable links to hierarchical and exclusionary narratives, a flag represents and/or refers to a common place. Consequently, the appropriation of that symbol and the expropriation of its meaning are deeply connected to the dissident place where
we’re put to exist.
However, reality is only the interpretation of a collection of individual understandings tamed by the so-called universal collective experience. Therefore, the construction of a collective hierarchical narrative of reality is based on the exclusion of experiences that do not fit its functioning standards. So, all actions involving trans people are easily manufactured as some form of attack, due to the cisheteronormative and capital-based system we live in, and the necropolitics that support it.
This leads us to dominance and abuse. From there a duality emerges in the shape of action. The desire to propel change in the oppressive social narrative is counterpointed with the reality that it is almost impossible to do so.
With that said we can deduce that being trans is a condition and the action can be multiple but, I wanna ask, what is the place between the two? What fits in it?

 

A XAVIER+